sábado, 26 de setembro de 2009

PAIO PERES CORREIA NA LENDA E NA LITERATURA

A hagiografia milagreira também se apoderou da biografia de Paio Peres Correia. Assim, a tradição atribui-lhe dois retumbantes milagres:
Em dada altura da sua actividade bélica, qual Moisés no deserto, mandou que de um penedo jorrasse água para dessedentar os seus homens. O segundo milagre não é de menor porte: como Josué, o bíblico sucessor de Moisés, noutra ocasião, ordenou ao Sol que sustivesse a sua marcha nos céus para ter oportunidade de terminar uma batalha.
Do primeiro destes milagres, “acontecido” em Tentudia, próximo de Sevilha, conserva memória a quintilha seiscentista já ciatda no princípio deste trabalho:

Farelães é o solar
que aos Correias deu o ser,
e D. Paio veio a ter,
o qual fez o Sol parar
para os Mouros vencer.

Existiu em Tentudia um mosteiro a honrar este milagre.
N'Os Lusíadas, Camões evoca a figura deste Mestre de Santiago e tem o bom senso de passar ao lado da lenda. Cantou o Épico:

Olha um Mestre que dece de Castela,
Português de nação, como conquista
A terra dos Algarves e já nela
Não acha quem por armas lhe resista.
Com manha, esforço e benina estrela,
Vilas, castelos toma, a escala vista.
Vês Tavila tomada aos moradores
Em vingança dos sete caçadores?

Vês, com bélica astúcia, ao Mouro ganha
Silves, que ele ganhou com força ingente?
É Dom Paio Correia, cuja manha
E grande esforço faz enveja à gente.

Garrett aproveitou, na Dona Branca, da figura do Grão-Mestre de Santiago. Leiam-se alguns versos:

O arauto, com solene e grave passo,
A Dom Pato caminha e, volteando
Três vezes no ar o seu bastão doirado,
Em som lento e pausado assim lhe fala:
«Da parte do mui alto e poderoso
E temido senhor, rei Dom Afonso
De Portugal e Algarves, a Dom Paio,
Mestre de Santiago, cavaleiro
Muito nobre e esforçado, vem Dom Nuno;
Sua embaixada traz. »

Este, inclinando-se, ao Mestre, disse então:

«Senhor Dom Paio:
El-rei e meu senhor, que a vós me manda,
Vos envia saudar, como a quem preza
E muito estima vossas nobres partes,
E à respeitável Ordem de Santiago,
Cujo sois digno Mestre. Sabei como
Prouve ao muito alto rei de Leão, Castela,
De Toledo, de Córdova e Sevilha,
Múrcia e Jaén, imperador augusto,
Sempre feliz, a meu senhor e amo,
El-rei de Portugal, neste seu reino,
Investi-lo do Algarve e vos ordena
Que lhe entregueis castelo e fortalezas
E lugares e vilas que heis tomado
E preito lhe façais e homenagem,
Como a senhor e rei.»

E houve ainda a cantiga satírica que já transcrevemos.
Mas não foram apenas escritores portugueses que se aproveitaram da figura de Paio Peres Correia. Também dele se serviu o espanhol Lope de Vega em El Sol Parado.
Recentemente, terá sido publicado um romance (?) de Pedro Oliveira Pinto, intitulado The Lord of Paderne, sobre a conquista de Paderne por Paio Peres Correia. A obra deu origem a umas ilustrações modernistas, de que é exemplo o retrato do próprio protagonista .
Dos castelos do brasão nacional diz-se que são do sul do Alentejo e do Algarve. Sendo assim, eles homenageiam as conquistas de D. Paio Peres Correia.

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