sábado, 26 de setembro de 2009

PAIO PERES CORREIA NA CONQUISTA DE TAVIRA

Paio Peres Correia é o protagonista da Crónica da Conquista do Algarve, obra que o imortalizou como herói nacional. Veja-se como ele se assenhoreou de Tavira:
Enquanto os cristãos pelejaram, chegou recado ao mestre a Cacela, onde estava, e cavalgou logo com suas gentes o mais apressadamente que pôde por lhes acorrer, porque bem sabia que outra míngua não havia de passar por eles senão vencer ou morrer; e trouxe o caminho que eles trouxeram. E entrou pela porta da vila, e passou pela praça sem nenhuma contradição, e tão cioso ia por lhes socorrer que não houve sentido de tomar a vila, que bem pudera tomar se quisesse.

E quando chegou às antas e viu os cavaleiros mortos, começou com os mouros mui dura peleja; e morreu tanta gente deles que ainda hoje em dia jaz ali a ossada deles; e desde que os venceu, seguiu o alcance fazendo grande estrago em eles.
Os mouros que estavam na vila, quando o mestre por ela passou, foram espantados de sua vinda e não cuidaram que o mestre sabia disto parte e mui à pressa cerraram as portas temendo-se do que depois se seguiu. E quando os viram assim vir fugindo não lhes ousaram abrir as portas e saíram para os recolher dentro e abriram-lhes uma porta escusa que está contra a mouraria; e os Cristãos deram ali com eles e não havendo em si acordo de se defenderem, entrou o mestre com eles de volta e cobrou a vila e apoderou-se dela; e foi estranha a mortandade que o mestre e os seus fizeram em os mouros e também nos da vila, como nos que morreram fora.

E não consta se o Abem Fabila, mouro senhor deste lugar, foi em esta batalha e morreu em ela ou se ficou no lugar e o que se fez dele.
Foi esta batalha e os mouros mortos em Tavira ganhada aos mouros aos onze dias de Junho, por dia de São Barnabé, na era de mil e duzentos e quarenta e dois anos.
Tomada a vila, a deixou o mestre segura e tornou com muita gente às antas onde jaziam os cavaleiros mortos e com grandes gemidos e dor os tiraram dentre os mouros, que jaziam os corpos deles lançados no sangue, com as espadas nuas; e trouxeram-nos à vila e fizeram na mesquita-mor Igreja de Santa Maria. E mandou o mestre fazer um monumento em que pôs sete escudos com as vieiras do Senhor Santiago e ali foram soterrados todos seis e o mercador com eles, os nomes dos quais são os que se seguem: dom Pêro Paes, comendador-mor, Mem do Vale, Damião Vaz, Álvaro Gracia, Estêvão Vaz, Valério de Ossa e o mercador Gracia Rodrigues, cujos corpos foram depois tidos em grande relíquia e reverência e devoção, como a mártires que espargiram seu sangue por honra da fé de Jesus Cristo.

Imagem de cima, trecho das muralhas do Castelo de Tavira; imagem de baixo, placa toponímica na mesma cidade.

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